No último dia 25, comemoramos o Dia Nacional do Escritor. Estabelecida em 1960, a data que homenageia escritores brasileiros serve para lembrarmos da importância cultural e histórica que esses homens e mulheres desempenham em nossas vidas enquanto brasileiros e leitores. Para celebrar esse dia, nada mais justo do que rememorarmos juntos alguns nomes de nossa literatura nacional!
Lá atrás, no século XVII, as culturas europeias já nos influenciavam literariamente com as correntes Seiscentistas (momento também chamado de Barroco), que precedeu o Arcadismo. Esses movimentos, embora tenham uma relevância documental incontestável, levantam questionamentos acerca de uma literatura essencialmente nacional, que retratasse nossos costumes e nossas vivências.
Pouco tempo depois, na Europa (1774), o Romantismo ganhava forma. O alemão Goethe inaugurou o movimento artístico na literatura com Os sofrimentos do jovem Werther e, passado alguns anos, o movimento também se consolidou no Brasil, com a publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, livro de Gonçalves de Magalhães. Em meados do século XIX, surgem nomes como Castro Alves, Gonçalves Dias e José de Alencar e, a partir de então, a literatura brasileira começa a delinear o seu próprio cânone. Tais nomes, dentre tantos outros, são protagonistas no que consideramos clássicos e são marcados principalmente pela linguagem erudita da época, o que, de certa forma, reflete também a forma elitista em que se via e produzia literatura naquele período.
Tais reflexos tornaram-se incômodos dentro da arte, pois também eram questões fomentadas na História. Nesse momento, no final do século XIX, enquanto os ideais da Revolução Francesa eram propagados e a Revolução Industrial transformava o cotidiano dos europeus, o Brasil enfrentava o entrave do colonialismo e da escravidão.
Nesse cenário, olhando mais para o outro e para as questões sociais, surge o Realismo. No país, o momento histórico foi alvo de retratação e impulso para o aparecimento dos escritores realistas, que defendiam a abolição da escravatura e mantinham influências diretas das escritas europeias, como a linguagem objetiva, a crítica à sociedade e a profundidade psicológicas das personagens - em contraponto ao excesso descritivo do movimento literário anterior. Machado de Assis é um dos nomes que ilustram essa fase, considerado um dos maiores escritores da literatura brasileira, é também o autor de Dom Casmurro (1899).
Por volta de 1922, acontece a Semana de Arte Moderna, inaugurando o modernismo no país. Como a arte também pode imitar a vida, o interior angustiado do homem frente às catástrofes históricas foi o cerne dos livros produzidos por esse movimento. Dividido em três fases, a primeira é conhecida como fase heróica e são protagonistas desse tempo os chamados "Grupo dos Cinco", que reunia diferentes expressões artísticas, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Tarsila do Amaral e Anita Malfatti. A segunda, representada pela poesia e pelo romance de 1930, é aonde encontra-se Carlos Drummond de Andrade, o maior poeta brasileiro.
Muitas mulheres também fizeram parte dessa história literária, como Rachel de Queiroz, a primeira mulher a participar da Academia Brasileira de Letras, Clarice Lispector, um dos maiores nomes da nossa literatura, que completaria 100 anos em 2020, Hilda Hilst e sua escrita ousada, entre outras grandes escritoras.
A terceira e última fase do Modernismo, caracterizada pela geração de 45 e pelos escombros e medos deixados pela Segunda Guerra, contempla vários dos grandes nomes da Literatura, assim como demonstra os traços literários da época, como em Guimarães Rosa e a presença do regionalismo, Graciliano Ramos e a linguagem direta e objetiva da realidade crua, Jorge Amado e a denúncia da opressão social, Lygia Fagundes Telles e a prosa urbanista, entre outros nomes que fizeram desse momento frágil uma forma de reconstrução pela Arte. Contemporâneo a esses autores, outras vanguardas iam aparecendo. Como os marginais e a poesia de Ana Cristina Cesar e Cacaso, ou os concretistas e o poema-imagem de Décio Pignatari e dos irmãos Campos. Ou, até mesmo, o poeta curitibano que ambientava esses dois mundos e definiu bem o ofício do escritor, Paulo Leminski:
Razão de ser
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece.
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?
Nas palavras de Leminski é possível ver a transformação da literatura enquanto arte e forma de representação. No século XXI, escreve-se porque precisa, precisa porque a palavra também viabiliza a existência. Hoje, como não podia ser diferente, muito da produção reflete o que se vive: os questionamentos existenciais diante da modernidade e das relações, a diversidade, a reivindicação dos direitos das mulheres, do direitos dos negros e de outras minorias, ou como as reflexões acerca do agora, em que por decorrência do isolamento social e das transformações sociais, muitas questões foram geradas. São nomes desse período entre autores iniciantes e já conceituados, todos os que compõem a InVerso e se arriscam nessa arte corajosa, pois como Guimarães Rosa gravou em seus escritos, “o que a vida quer da gente é coragem”!
Um feliz dia a todos os que escrevem!
Equipe InVerso 2020
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