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A Língua Brasileira de Sinais e a Literatura

Queridos :)


O Cápsulas Literárias é um projeto da Editora InVerso que surgiu em março de 2019, com o intuito de produzir pequenos textos relacionando literatura, editoração e outras temáticas. Assim, pensando em expandir o projeto, a partir de hoje, os temas vistos aqui serão aprofundados em um texto no blog da InVerso, construídos com a participação de outros colaboradores, que enriquecerão a discussão. Ah, aliás, comenta aí se tem algum tema que você gostaria de ver aqui!



Nesses posts, também publicamos textos em homenagem a datas que consideramos importantes. Assim, hoje o cápsulas será sobre o Dia Nacional das Libras, e terá a participação de Giovana Maria de Oliveira, pós-graduada em Libras e professora na Librandus e UNESPAR, Rita de Cássia Maestri, mestre em Educação e professora de LIBRAS na UTFPR, e Paula Botelho, Drªa em Linguagem, Letramento e Cultura e autora do livro “Quando 1 + 1 é muito mais que 2”, em que aborda o fenômeno do bilinguismo.

Dessa forma, quando pensa-se no termo LIBRAS, pode-se pensar que a língua de sinais é universal, no entanto, a sigla significa Língua Brasileira de Sinais, e é uma língua única para cada pedacinho do mundo, podendo variar, inclusive, de região para região, dependendo da cultura regional e das expressões utilizados em cada local. Sendo então, um conjunto de formas gestuais usada por surdos para a comunicação entre eles e outras pessoas, sejam elas ouvintes ou não. E a principal diferença em relação à comunicação de pessoas ouvintes está no modo de articulação da linguagem, que acontece de maneira visual-espacial e não por meio de sons.


Por ser um sistema independente, a LIBRAS não funciona com a simples gestualização da língua portuguesa através do alfabeto, dado que a comunicação ocorre em diferentes níveis linguísticos e tem uma estrutura oracional e de concordância própria, buscamos saber como a linguagem poética, por exemplo, é traduzida para LIBRAS.

Paula Botelho, explica que “O que difere é o modo como tudo se constrói em cada uma das línguas. As línguas de sinais são línguas completas, capazes de trazer para as sentenças verbos, substantivos, adjetivos, preposições, conjunções, pronomes e quaisquer outros elementos linguísticos, mas eles aparecem de forma visual e motora nas enunciações por LIBRAS; dependem de parâmetros como o da configuração das mãos, localização destas configurações em diferentes partes do rosto e do corpo, o movimento destas configurações, entre outras características. O uso de verbos, substantivos, adjetivos, preposições, conjunções, pronomes e outros elementos linguísticos é inteiramente diferente das línguas orais e escritas, no que diz respeito à ordem nas frases e outras características. Mas ainda há muito desconhecimento sobre a linguística das línguas de sinais, inclusive da LIBRAS, embora pesquisas ao longo de décadas, no Brasil e no mundo, mostrem que são, de fato, línguas. E no desconhecimento reside muitas vezes o preconceito linguístico. Sobre a linguagem poética, ela pode ser traduzida para a LIBRAS e para qualquer outra língua de sinais. No entanto, não terá o mesmo formato do texto oral e do escrito. O texto da língua de origem não é literal na tradução para nenhuma outra língua, e busca a máxima semelhança e aproximação. No caso das traduções português-LIBRAS acontece o mesmo.


Concordando com a afirmação de Paula, Giovana e Rita acrescentam que na tradução poética para LIBRAS é necessário intenso uso dos classificadores e processo anafórico da língua, que desempenham uma função descritiva detalhando som, tamanho, textura, paladar, tato, cheiro, formas em geral de objetos inanimados e seres animados.

Para além disso, é importante refletir como tornar esse espaço mais acessível e qual a influência das ilustrações em livros infantis, da mesma forma em que se pensa como acontece a contação de histórias. Assim, “já existem livros como Alice do país da maravilha, Pinóquio, Aladim e outros, com interpretação da Língua Portuguesa para Libras, da mesma forma em que existe a literatura surda, como livro Tibi e Joca , uma história de dois mundos do autor surdo Tibiriçá Maineri”, acrescenta Maestri. Quanto às ilustrações, Giovana e Rita, enfatizaram que a ilustração é extremamente importante para a compreensão das histórias, assim como no dia a dia, na medida em que os surdos aprendem com os olhos.


As duas professoras também contaram que tiveram dificuldade em desenvolver a leitura e a escrita por conta da surdez, alcançando segurança nas modalidades com muito esforço. Tendo isso em vista, Paula Botelho acresce que a realidade cotidiana e escolar dos surdos no Brasil e em muitos países mostra que uma grande quantidade de pessoas surdas não lê textos de média ou grande complexidade, e que algumas razões explicam isso.


A primeira é a de que a educação que foi e ainda é oferecida aos surdos é muitas vezes tardia e frequentemente sem a inclusão da LIBRAS, além da também precária é a formação dos professores que trabalham com estudantes surdos "como poderia um professor de português, por exemplo, que apenas sabe algumas palavras e frases de português dar aula de português? de matemática, geografia e o que for? O mesmo se aplica aos professores ouvintes, grande maioria dos casos, que mal aprendem LIBRAS, muitas vezes até se certificam nesta língua, mas não aprendem a usá-la com competência e não possuem um rico vocabulário e ainda assim trabalham com estudantes surdos. Há professores ouvintes que também não conhecem bem a língua portuguesa e não se aprimoram ao longo dos tempo no conhecimento desta língua. Pensar na formação dos professores é pensar na inclusão de professores surdos proficientes em LIBRAS (nem todos são), mestres indispensáveis na educação de estudantes surdos, garantindo também o seu aperfeiçoamento nesta língua e no português como segunda língua. É preciso investir maciçamente na formação continuada de professores (surdos e ouvintes). Por último, uma terceira razão se relaciona com a pouca ou inexistente oferta e estímulo à leitura.

Muito dessa problemáticas pode ser vista nos discursos das demais professoras. Rita entrou na escolas de surdos e logo entendeu a lógica da Libras, mas teve que adquiri-la aos poucos na comunicação somente com os surdos, uma vez que na época era proibido o uso da Libras e era necessário que conversassem escondidos usando a Língua de Sinais. Para Giovana, não foi muito diferente, aos 7 anos também estudou na escola Libras, no período do método Comunicação Total, em que se usa simultaneamente língua de sinais e a língua oral. Neste período, a língua viva só existia na comunidade surda.


Foi apenas em 2002 que a LIBRAS foi reconhecida em lei como uma Língua.

No entanto, embora a acessibilidade e a garantia de direitos devesse ser muito maior, Maestri e Oliveira consideram a internet um espaço muito importante para a divulgação e aprendizagem da LIBRAS, principalmente porque ainda há muitas dificuldades na comunicação entre ouvintes e surdos, que somam 10 milhões de brasileiros. Número que demonstra a extrema importância de homenagear e visibilizar essa causa e esse dia!

Nota: Dentre todos as participantes, duas são surdas e uma é ouvinte.

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